Editorial GA v8 n3 2005

 

Editorial
Katia Siqueira de Freitas, Ph.D.
Editor.

 

Enquanto nos Estados Unidos o furacão KATRINA desnudar para o mundo as desigualdades socioeconômicas daquele país, no Brasil só precisamos examinar uns poucos dados já estampados em todos os jornais para identificarmos nossa iniqüidade que potencializa o furacão ignorância. Vejamos.

 

A recente leitura do Livro O Mundo Plano: uma breve historia do século XXI, de Thomas L. Friedman, deixou-nos bastante reflexivas com relação às nossas responsabilidades sócio educativas. Neste Mundo Plano que enfrenta a terceira fase da globalização, conforme denominado por Thomas L. Friedman, que políticas sociais e que educação precisamos? O que deixamos de fazer e o que efetivamente estamos fazendo em relação ao nosso povo, à nossa sociedade, aos nossos valores humanos e educacionais. Esta questão está presente em várias discussões que apontam caminhos novos e velhos para problemas e desafios antigos e que se tornam mais desafiantes ainda à proporção que não focamos nossas ações no sentido de trabalhar alternativas condizentes com as necessidades atuais e futuras.

 

Friedman concebe três períodos de globalização: o primeiro desde a viagem de Colombo em 1492 até, aproximadamente,1800. Esta etapa diminuiu, no sentido figurado, o espalhamento do mundo. Envolveu músculos, muitos músculos, coragem e determinação, além claro de muitos ventos, cálculos e criatividade. O segundo inicia-se em 1800 e vai até 2000 com duas guerras monodias e outras, depressão e multinacionais. E assim o mundo assumiu um tamanho bem menor. Transportes, deslocamento e comunicações tornaram-se mais acessíveis com o advento do motor a vapor, ferrovias, aviões e telégrafos, telefonia, hardware, fibras óticas, satélites e world wide web. Já a terceira globalização, para ele, tem lugar a partir de 2000 com o software e seus novos aplicativos, colaborações e concorrências no âmbito mundial, a exemplo do que ocorre com tomografias tiradas nos Estados Unidos, cujos laudos são preparados por médicos da Índia e da Austrália. Ações semelhantes acontecem em outras áreas: contabilidade, jornalismo, educação, secretariado e assim por diante. Dalian, cidade da China, além de sediar atividades administrativas, atividades de pesquisa e desenvolvimento de softwares de multinacionais, está preparando call centers para atender prestadores de serviço em língua japonês. Muitas outras interligações estão a ocorrer, internacionalização da economia, deslocamento de emprego, prejuízo para uns e ganho para outros países.

 

Uma pergunta se impõe: em qual dos estágios de globalização estão as nossas escolas publicas? Para qual estágio de globalização elas estão preparando alunos, professores e técnicos? Elas conseguem perceber este mundo plano, interligado e menor a cada dia? Que novas formas de aprendizagem e de conhecimentos são requeridas para que nossa população esteja inserida nesta nova realidade mundial ou possa modificá-la, se assim o desejar? Que nível de conhecimento, que linguagens, idiomas, habilidades são necessárias? Que teorias e praticas precisam ser pensadas, desenvolvidas e implementadas? Que talentos precisam ser desenvolvidos? Que competências são necessárias para fazerem diferença na qualidade de vida, na economia e na oferta de serviços e de postos de trabalho ocupados? Em que mundo estão nossas escolas e universidades públicas? Qual o link entre ambas? Qual o link entre estas e as demais? Qual o link entre as escolas públicas e as privadas consideradas de alta qualidade? Não podemos esquecer que mesmo os alunos de escolas brasileiras privadas, consideradas da mais alta qualidade no Brasil, tiveram um desempenho, em testes internacionais, cujos resultados ficaram a quem do esperado.

 

Segundo Friedman, cerca de 22 universidades e faculdades em Dalian possuem mais de 200 mil alunos, sendo que mais da metade diploma-se em engenharia ou ciência e todos os estudantes de todas as áreas são incentivados a estudarem inglês, japonês e informática para enfrentarem a vida, a competição, o trabalho e a empregabilidade.

 

Nosso estágio é ainda de alfabetizar jovens fora da faixa etária, qualificar a aprendizagem e aprender bem nosso idioma materno, o português, além de fazer políticas que se preocupem com a equidade social e educacional. O ensino fundamental passa a ter nove anos e rezamos para que sejam nove anos de alta qualidade especialmente na escola pública. O ensino médio público ainda não está bastante fortalecido para nossos estudantes chegarem à universidade de qualidade sem sofrimentos e reforço em cursinhos. Dentre as novas universidades e faculdades poucas se destacam pela qualidade, inovação e competitividade no campo do saber e da construção dos conhecimentos. Qual o futuro de nossos estudantes se o presente não acompanhar a realidade mundial e local? Que formação permanente está sendo oferecida? Que articulações estão sendo implementadas? Que formas de inclusão sócio econômica cultural e educacional estão sendo realizadas em nosso pais?

 

Voltamos a pergunta original, neste mundo plano, que não pode ser ignorado, que políticas e projetos sociais precisamos? Como e quando desenvolveremos pessoas e indivíduos de modo completo, conjugando altas qualidades humanas, técnicas e política com inserção no mundo atual e vindouro? Que mundo estamos construindo ou plasmando? A final quantos mundos há neste planeta globalizado? Quantos mundos há em uma mesma comunidade, sociedade, nação? Como e por que estes mundos se estabelecem?

 

Sete artigos compõem este número da revista Gestão em Ação. Todos voltados para a educação desde a Escola Família Agrícola até a formação de graduandos em enfermagem e a formação permanente vista por professores de matemática. Desejamos a todos uma boa leitura e que as reflexões despertem-nos para um mundo melhor e mais plano em termos de distribuição de renda e de oportunidades com a construção de uma vida melhor, mais sadia e mais feliz para cada um dos habitantes do planeta.

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