Enquanto nos Estados Unidos o furacão
KATRINA desnudar para o mundo as desigualdades socioeconômicas daquele país,
no Brasil só precisamos examinar uns poucos dados já estampados em todos os
jornais para identificarmos nossa iniqüidade que potencializa o furacão
ignorância. Vejamos.
A recente leitura do Livro O Mundo
Plano: uma breve historia do século XXI, de Thomas L. Friedman,
deixou-nos bastante reflexivas com relação às nossas responsabilidades
sócio educativas. Neste Mundo Plano que enfrenta a terceira fase da
globalização, conforme denominado por Thomas L. Friedman, que
políticas sociais e que educação precisamos? O que deixamos de fazer e
o que efetivamente estamos fazendo em relação ao nosso povo, à nossa
sociedade, aos nossos valores humanos e educacionais. Esta questão
está presente em várias discussões que apontam caminhos novos e velhos
para problemas e desafios antigos e que se tornam mais desafiantes
ainda à proporção que não focamos nossas ações no sentido de trabalhar
alternativas condizentes com as necessidades atuais e futuras.
Friedman concebe três períodos de
globalização: o primeiro desde a viagem de Colombo em 1492 até,
aproximadamente,1800. Esta etapa diminuiu, no sentido figurado, o
espalhamento do mundo. Envolveu músculos, muitos músculos, coragem e
determinação, além claro de muitos ventos, cálculos e criatividade. O
segundo inicia-se em 1800 e vai até 2000 com duas guerras monodias e
outras, depressão e multinacionais. E assim o mundo assumiu um tamanho
bem menor. Transportes, deslocamento e comunicações tornaram-se mais
acessíveis com o advento do motor a vapor, ferrovias, aviões e
telégrafos, telefonia, hardware, fibras óticas, satélites e world wide
web. Já a terceira globalização, para ele, tem lugar a partir de 2000
com o software e seus novos aplicativos, colaborações e concorrências
no âmbito mundial, a exemplo do que ocorre com tomografias tiradas nos
Estados Unidos, cujos laudos são preparados por médicos da Índia e da
Austrália. Ações semelhantes acontecem em outras áreas: contabilidade,
jornalismo, educação, secretariado e assim por diante. Dalian, cidade
da China, além de sediar atividades administrativas, atividades de
pesquisa e desenvolvimento de softwares de multinacionais, está
preparando call centers para atender prestadores de serviço em língua
japonês. Muitas outras interligações estão a ocorrer,
internacionalização da economia, deslocamento de emprego, prejuízo
para uns e ganho para outros países.
Uma pergunta se impõe: em qual dos
estágios de globalização estão as nossas escolas publicas? Para qual
estágio de globalização elas estão preparando alunos, professores e
técnicos? Elas conseguem perceber este mundo plano, interligado e
menor a cada dia? Que novas formas de aprendizagem e de conhecimentos
são requeridas para que nossa população esteja inserida nesta nova
realidade mundial ou possa modificá-la, se assim o desejar? Que nível
de conhecimento, que linguagens, idiomas, habilidades são necessárias?
Que teorias e praticas precisam ser pensadas, desenvolvidas e
implementadas? Que talentos precisam ser desenvolvidos? Que
competências são necessárias para fazerem diferença na qualidade de
vida, na economia e na oferta de serviços e de postos de trabalho
ocupados? Em que mundo estão nossas escolas e universidades públicas?
Qual o link entre ambas? Qual o link entre estas e as demais? Qual o
link entre as escolas públicas e as privadas consideradas de alta
qualidade? Não podemos esquecer que mesmo os alunos de escolas
brasileiras privadas, consideradas da mais alta qualidade no Brasil,
tiveram um desempenho, em testes internacionais, cujos resultados
ficaram a quem do esperado.
Segundo Friedman, cerca de 22
universidades e faculdades em Dalian possuem mais de 200 mil alunos,
sendo que mais da metade diploma-se em engenharia ou ciência e todos
os estudantes de todas as áreas são incentivados a estudarem inglês,
japonês e informática para enfrentarem a vida, a competição, o
trabalho e a empregabilidade.
Nosso estágio é ainda de
alfabetizar jovens fora da faixa etária, qualificar a aprendizagem e
aprender bem nosso idioma materno, o português, além de fazer
políticas que se preocupem com a equidade social e educacional. O
ensino fundamental passa a ter nove anos e rezamos para que sejam nove
anos de alta qualidade especialmente na escola pública. O ensino médio
público ainda não está bastante fortalecido para nossos estudantes
chegarem à universidade de qualidade sem sofrimentos e reforço em
cursinhos. Dentre as novas universidades e faculdades poucas se
destacam pela qualidade, inovação e competitividade no campo do saber
e da construção dos conhecimentos. Qual o futuro de nossos estudantes
se o presente não acompanhar a realidade mundial e local? Que formação
permanente está sendo oferecida? Que articulações estão sendo
implementadas? Que formas de inclusão sócio econômica cultural e
educacional estão sendo realizadas em nosso pais?
Voltamos a pergunta original, neste
mundo plano, que não pode ser ignorado, que políticas e projetos
sociais precisamos? Como e quando desenvolveremos pessoas e indivíduos
de modo completo, conjugando altas qualidades humanas, técnicas e
política com inserção no mundo atual e vindouro? Que mundo estamos
construindo ou plasmando? A final quantos mundos há neste planeta
globalizado? Quantos mundos há em uma mesma comunidade, sociedade,
nação? Como e por que estes mundos se estabelecem?
Sete artigos compõem este número da
revista Gestão em Ação. Todos voltados para a educação desde a Escola
Família Agrícola até a formação de graduandos em enfermagem e a
formação permanente vista por professores de matemática. Desejamos a
todos uma boa leitura e que as reflexões despertem-nos para um mundo
melhor e mais plano em termos de distribuição de renda e de
oportunidades com a construção de uma vida melhor, mais sadia e mais
feliz para cada um dos habitantes do planeta.