Platão em seu livro "A república" na parte em que se refere à educação,
chama a infância, período compreendido entre 0 a 7 anos, de a "Idade dos
Contos" e afirma que, a educação, nessa faixa etária, deve acontecer
através dos contos.
A proposta de
trabalhar as virtudes através dos contos infantis é uma prática natural
e louvável; por meio dela podemos desenvolver nas crianças as suas
melhores qualidades, tomando como exemplo as das dos heróis, sempre
presentes na trama. A lição dos contos é necessariamente clara num mundo
onde as injustiças sociais e as diferenças econômicas são flagrantes: o
gosto da criança pela leitura, desde cedo, promove a capacidade de ela
transitar entre as várias linguagens que lhe vão permitir interpretar o
mundo e os seres humanos em um desejo contínuo de aprender e inventar.
Inventar sempre. "O homem inventou a roda para ir mais longe, construiu
casa que o abriga e a roupa que o protege do sol e do frio", por que não
defender a escola uma educação que motive a atuação do aluno na sua
criação, na sua expressão, na vivência em grupo, garantindo-lhe sucesso
e presença mais viva na sala de aula e permanência na escola? Como? Há
um esforço quantitativo para pôr gente na escola. Não há o mesmo esforço
para dotar de conteúdo a ação pedagógica e humana das escolas. Ao lado
disso, nas casas dos ricos, dos remediados e dos pobres desapareceu a
mesa da sala de jantar. Centro de formação moral e psicológica da
criança. Nessa mesa eram desenvolvidos valores da sensibilidade, do
gosto, da amizade, da solidariedade, do patriotismo. Uma nação só é
capaz de se firmar a partir de uma sociedade com um mínimo de exigência
ética e moral. E não havendo essas exigências a sociedade continuará de
mais a mais se distanciando dos seus ideais, da ética e dos valores
civis da república.
Hoje não há mais mesa
na sala de jantar onde se praticava também o contar e o ouvir histórias,
atividades fascinantes e prazerosas da mente humana. Não há escola com
definição de uma política pedagógica que seduza o aluno com projetos
contendo valores imprescindíveis para o seu trilhar pela vida de real
cidadão.
Segundo Dewey, a
educação é um processo de vida e não a preparação para a vida futura; e
a escola deve representar a vida presente tão real e vital para o aluno
como a que ele vive em casa e na comunidade. Faz-se necessário a mudança
de postura pedagógica fundamentada na concepção de que a aprendizagem só
acontecerá se houver situações significativas para o aluno, fazendo-o
ativo, participativo, reflexivo. E o trabalho com projetos propicia a
freqüente execução de tarefas por todos os alunos, tornando-os ativos,
participativos, reflexivos, também atores do projeto político
pedagógico. O professor, portanto, passa a ser mais ainda mais
importante na seleção das informações essenciais. Assim, acontecendo
surgirá a etapa da sensibi-lização, de motivação e naturalmente cada
aluno contribuirá, mesmo de forma embrionária, com a sua parte na
organização e na elaboração de um trabalho pedagógico de significado e
protagonizado também pela comunidade, o que será uma demonstração de
autonomia escolar.
A boa escola será
aquela que submeter seus alunos à maior quantidade possível de
experimentações e pesquisas, nas quais o professor desempenhe o papel de
facili-tador, saindo da passividade tão comum na escola tradicional para
uma educação prática interdisciplinar com interligação das várias
ciências particulares, visando uma transformação da realidade;
esqueceríamos, com o exercício da gestão democrática e autônoma, os
resquícios do governo centralizador d. Pedro I ainda tão presentes na
"educação de nível elementar" das nossas escolas conforme ressalta,
nesta revista, a professora Antonietta d'Aguiar Nunes.
A transição
qualitativa que o país precisa fazer, é sabido, encontra obstáculos
difíceis. O despreparo do professor é um deles. Quase a metade (46,7%)
dos docentes da rede pública só tem nível médio. Os salários da carreira
são de R$320,00 mensais em média. Num contexto de carência de recursos
como o atual, será muito difícil melhorar rapidamente esse quadro, mas
deixar de agir agora, para que o país dê o salto qualitativo de que
tanto necessita, significa condenar as crianças de hoje ao emprego
precário de amanhã ou ao desemprego.