Editorial GA v6 n1 2003

 

Editorial
Regina Maria de Sousa Fernandes
Licenciada em Letras, UFBA.
Especialista em Pesquisa Educacional,
UNESCO/INEP/USP.
 

 

No Brasil,infelizmente, a escola pública não se tem mostrado um instrumento eficiente de inclusão social é o que nos revelam os últimos resultados do ENEM. Alunos de escolas particulares se saem melhor que os da rede pública e os mais ricos ficam à frente dos mais pobres; filhos de pais instruídos também exibem rendimento superior. A cada ano os resultados do ENEM indicam que o baixo desempenho está associado à pobreza e à falta de estímulos intelectuais em casa: o que é igual a se reconhecer que filhos de pais pobres e sem instrução experimentam maiores dificuldades para manter-se na escola do ensino médio com boas notas, quando não abandonam os estudos bem antes; outros dados nos mostram que, ocasionalmente, talvez eles ingressem na universidade.

Se por um lado o país se destaca internacionalmente por suas bem sucedidas experiências em novas tecnologias de informação e comunicação, por outro vê-se negado o acesso digital à maior parte de sua população cujo perfil de distribuição de renda é um dos piores do mundo. A mesma exclusão se pode observar em áreas de entretenimento tão necessárias a uma educação de qualidade: infelizmente, é este país rico de população pobre e desigualdade extrema,"com direito" à exclusão de gênero, classe e cor/raça, isso refletindo sobre o compromisso do Estado com a qualidade da educação.

Ainda em 1872, em final do século XIX, vigoravam leis que proibiam o acesso de negros e negras, livres ou libertos, a escolas de qualquer nível, sendo bom lembrar que a criação dos primeiros cursos de ensino superior data do início do século. Joaquim Nabuco em O Abolicionista previu: " O processo natural pelo qual a escravidão fossilizou nos seus moldes a exuberante vitalidade do nosso povo durou todo o período de crescimento e, enquanto a nação não tiver consciência de que lhe é indispensável adaptar à liberdade cada um dos aparelhos de que a escravidão se apropriou, a obra desta irá por diante mesmo quando não houver mais escravidão" Mudar é difícil, mais é possível e urgente - diz Paulo Freire. Somente por meio da educação e do ensino de qualidade a escola pública estará aberta para o redimensionamento. Pensar-se em uma pedagogia cuja pauta educacional não tem lugar apenas na sala de aula, mas em círculos culturais; sendo a experiência do aluno e do professor fonte de análise quanto oportunidade de desmistificar falsos valores.Para tanto, a escola precisa aprender a analisar o mundo, ter consciência de como a sociedade funciona para poder planejar, programar e implementar em sala de aula um currículo com base na própria comunidade, e praticar a pedagogia também como exercício político a exemplo do Conselho Escolar,do Projeto Político Pedagógico, do Plano de Desenvolvimento da Escola, do Grêmio Estudantil, do Conselho de Representantes de Turmas etc .que abrem espaço e promovem a autonomia administrativa e pedagógica da escola, pondo o currículo nas mãos do professor capacitado e comprometido em partilhar e compartilhar dos contextos de debates, da reformulação de conceitos voltados a formar pessoas competitivas com igualdade de oportunidades para se tornarem cidadãos do mundo.

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