Editorial GA v5 n2 2002

 

Editorial
Katia Siqueira de Freitas
Editor GA
 


Desnecessário lembrar que os olhos do mundo recaíram sobre as escolas públicas como uma estratégia para atingir a eqüidade e a aceitação do multiculturalismo, para democratizar a educação pública, a cidadania e a própria democracia, como nos aponta o pensador português Boaventura de Souza Santos organizador do livro Democratizar a Democracia: os caminhos da democracia participativa, publicado no Brasil pela editora Civilização Brasileira, ano 2002.

O movimento da cultura política e a coexistência de distintas culturas num mesmo espaço escolar provoca ora o acirramento das relações ora o reconhecimento das diferenças culturais locais e nacionais. Esse fenômeno ganhou espaço nas pesquisas e na literatura, levando muitos estudiosos a se preocuparem em conhecer e entender o universo que circunda cada cidadão e afeta sua forma de pensar, de atuar na sociedade e no cotidiano de sua escola.

Sobre esse tema, uma equipe de professores e pesquisadores, formada por norte-americanos e brasileiros, elaborou um projeto de intercâmbio cultural e pedagógico entre as universidades da Califórnia e do Brasil. Parte dessa experiência, compõe o primeiro artigo, apresentado nesta edição e intitulado “Building a teacher exchange between California State University and Brazil”, escrito por Robert Henriques Girling e Miriam Hutchins.

A consolidação da democracia no Brasil vem propiciando o crescente envolvimento da participação de alunos, familiares e comunidade local no processo de estabelecimento de parceiros e ações conjuntas evidenciando o compartilhamento e os conflitos de distintas culturas e interesses ora convergentes, ora divergentes. O próprio projeto pedagógico, quando bem elaborado com a participação coletiva, pode refletir esse caldeirão de culturas e interesses coletivos, voltados para o desenvolvimento intelectual, o bem-estar e a saúde física e emocional dos seres humanos.Estes aspectos são abordados no texto “O professor e as ações pedagógicas: relações e construções na parceria com os alunos”, elaborado por três professoras da Universidade de Fortaleza. São elas Maria da Apresentação Barreto, Luiza Jane Eyre de Souza Vieira e Ana Maria Fontenelle Catrib.

A força da cultura é capaz de forjar a identidade de uma nação, da sua literatura e do seu povo com a colaboração de seus intelectuais; enquanto que a literatura educa a consciência estética, cívica e é, frequentemente, usada com efeito pedagógico definindo uma educação estética e moral. O conteúdo dos textos pode tornar-se “modelo cultural para o estado”, podendo ou não passar pelo crivo do professor. Rojas, além de escrever a Historia de la literatura argentina, pautou e ensinou a lê-la. Esta discussão, pertinente e valiosa para o estabelecimento de políticas educacionais, está presente no artigo de Carola Hermida , docente e pesquisadora, da Universidade de Mar del Plata, Argentina.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem a transversalidade de vários temas. Dentre eles, está a educação sexual como promotora de saúde, responsabilidade consigo próprio e com o outro, respeito às diferenças, proteção contra a exploração sexual. As pesquisadoras Raimunda Hermelinda Maia Macena da UNIFOR e Vera Lígia Montenegro de Albuquerque da UFC apresentam esse tema, tão complexo e intrigante quanto importante na formulação de políticas curriculares de alcance nacional desde sua inclusão na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional No.9394/96. As pesquisadoras acompanharam e observaram o cotidiano de professores de escola pública e identificaram seu despreparo técnico e metodológico para lidar com mitos e crenças relativos à educação sexual. Elas sugerem o diálogo e o conhecimento cultural mútuo, incluindo valores, crenças, história de vida e aspectos afetivos.

Uma ampla análise dos resultados do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério - FUNDEF - é apresentada por Maria Iza Pinto de Amorim Leite, professora da UESB. Há uma rede nacional de pesquisadores envolvida com este tema. A autora refere-se ao estudo em Vitória da Conquista, Bahia, cidade cujos prefeitos recentes provêm de partidos opositores ao Governo do Estado. Ela relata várias questões relativas ao aumento da arrecadação fiscal e ao número de alunos atendidos pela rede pública municipal; à implantação de classes de 5ªà 8ª séries do ensino fundamental nas zonas rural e urbana, à preocupação com o espaço físico, à falta de atendimento às expectativas de salário dos professores e à regularidade dos pagamentos.

“A origem das políticas públicas para o ensino secundário - O Liceu Provincial Baiano -1836 a 1890” é o título do artigo da pesquisadora Sara Martha Dick. Ela nos conta que até a criação desse Liceu só havia as escolas régias ou menores que lecionavam as primeiras letras e aulas maiores para o ensino secundário e, posteriormente, surge o curso secundário, propriamente, dito. O Liceu Provincial, no convento da Palma, passou a ser referência, pois era único no oferecimento de ensino secundário público na Bahia. Devido às tensões políticas da época, sua regulamentação ficou prejudicada por um tempo. A autora faz uma ampla discussão histórica, pontuando que a instabilidade política, do final do Império, teve forte impacto negativo sobre a instrução pública ao ponto de ela sofrer uma crise de identidade.

A historiógrafa Antonietta d´Aguiar Nunes trata da política educacional do segundo governo republicano na Bahia, pontuando que desde 1880 já se discutia a reforma educacional sob a lente de políticas liberais e já enfatizavam a educação infantil, formação continuada de professores. Ela chama a atenção para o fato de que a província da Bahia foi uma das últimas a acatar a república e discute as várias reformas ocorridas no período com o concurso de Sátiro de Oliveira Dias, Manoel Vitorino Pereira, Carlos Leôncio de Carvalho, Hermes Ernesto da Fonseca.

Sobre a importância da educação ambiental e a relação com a identidade local, no caso específico com a Argentina, Maria Cecilia Rigonat apresenta uma profícua discussão, referindo-se a inúmeras conferencias sobre meio ambiente, desde a ocorrida em Estocolmo em 1972 até às mais recentes. Ela faz uma distinção entre habitar e viver, remete o leitor ao conceito de lugar como espaço relacional, de história e de identidade, para em seguida apresentar o problema das inundações em Mar del Prata e enfatizar a necessidade de educação ambiental para a formação do cidadão ambientalista, se é que podemos dizer esta expressão.

A administração estratégica da escola é repensada sob a ótica dos administradores Francisco José da Costa e Daniel Rodriguez de Carvalho Pinheiro, que estabelecem a importância de um modelo de gestão inovador capaz de considerar as determinações dos órgãos governamentais, quanto aos aspectos: o sócioeconômico, o político, e assim por diante. Eles analisam a gestão estratégica como uma ferramenta possível nas organizações escolares e consideram a gestão macro-ambiental. A relação sinérgica da escola com seu ambiente e a percepção dos cenários futuros são examinados como importantes e determinantes de muitas ações e do sucesso delas. Este conceito de gestão estratégica está atrelado ao “modelo de gestão que incorpora os princípios de pensamento e ferramentas do planejamento, desenvolvimento e controle estratégicos e suas aplicações nos diversos subsistemas que compõem o sistema administrativo de uma organização”. Eles afirmam que esse tipo de gestão é coerente com a turbulência que envolve as organizações, inclusive, a escolar.

A indagação sobre a seleção de textos literários no âmbito da escola e o poder do docente sobre esta seleção, o sentido da leitura literária, o papel das instituições escolares, são algumas das preocupações de Mila Alicia Cañón da Argentina. Ela discute questões relativas à estética e a valores, afirmando que da atuação do professor nesse trabalho depende a formação do futuro leitor competente, crítico e autônomo e a construção de sua biblioteca.

Com esse artigo, encerramos o último número de GA em 2002, desejando a todos e em especial aos nossos leitores, paz e saúde em 2003.

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